Saúde e Higiene mental no local de trabalho. Até quando o suficiente é insuficiente?

Saúde e Higiene mental no local de trabalho. Até quando o suficiente é insuficiente?

Olá a todos.

Disclamer: Não sou terapeuta certificado ou nada que se pareça em psicoterapia. Não tenho nenhum degree relacionado com psicologia, ou aspiro a ter. O texto seguinte é a minha opinião pessoal sobre coisas que tenho visto em 33 anos de carreira desde que comecei a trabalhar e como eu lidei com ambientes maus de forma a ajudar a quem está nessa luta agora.

Olá a todos,

Se há coisa que todos partilhamos, independentemente da profissão, é que passamos grande parte da nossa vida no trabalho.
Já fizeram as contas? Quase um terço da nossa existência é passada entre e-mails, reuniões e conversas de corredor (ou de teams, para quem ainda está no “modo remoto”). Com tanto tempo dedicado a este espaço, não podemos ignorar o impacto enorme que ele tem na nossa saúde mental e no bem-estar geral. E aqui entra a grande questão: como é que podemos cuidar da nossa higiene mental num ambiente corporativo?

A higiene mental no trabalho: o que é e por que importa.

Higiene mental é basicamente aquilo que fazemos para manter a nossa mente saudável, assim como escovar os dentes mantém o nosso sorriso bonito. Num ambiente corporativo, a higiene mental ajuda-nos a lidar com o stress, a resolver conflitos e a melhorar o nosso desempenho.

Todos sabemos que as empresas adoram falar de produtividade, mas o que muitas vezes esquecem (ou ignoram) é que colaboradores felizes -externos ou internos – , tranquilos e com a mente limpa rendem muito mais. Não é só sobre atingir metas, mas também sobre criar um ambiente onde seja possível trabalhar sem sentir que estamos a carregar o mundo nas costas.

Reconhecer os sinais de que algo não está bem.

Quantas vezes sentimos aquela ansiedade que começa pequenina e cresce a cada e-mail que chega? Ou aquela sensação de exaustão mental que nem um fim de semana no sofá resolve? Estes são sinais claros de que precisamos de dar atenção à nossa saúde mental.

Outros sinais incluem:

  • Irritabilidade constante (sim, aquele colega que te tira do sério pode ser o gatilho, mas certamente ele não será o único problema).
  • Dificuldade em concentrar-se.
  • Sentir-se desmotivado ou sem energia.
  • Problemas para dormir.

Se nos identificarmos com algum destes sintomas, é hora de parar e refletir sobre o que podemos fazer para mudar.

Como gerir ambientes tóxicos (e sair deles, se necessário).

Já todos ouvimos falar do chavão de ambientes tóxicos no trabalho. São aqueles lugares onde a cultura de competitividade exagerada, a falta de empatia ou líderes autoritários transformam o dia a dia num verdadeiro desafio. São grupos de trabalho onde colegas se atropelam com medo de perder visibilidade, ou onde a humanidade desaparece com a nega de uma chefia da possibilidade de sair mais cedo do serviço para acompanhar um filho a uma festa de Natal.

Pessoalmente, e na minha carreira aprendi a gerir estes ambientes com alguns destes truques:

  • Estabelecer limites claros.
    Nem tudo é urgente, e nós temos o direito de dizer “não” quando algo está a ultrapassar os nossos limites. Se responder a e-mails às 23h não faz parte da descrição do trabalho, não há problema em ignorá-los até ao dia seguinte. Uma coisa é auxiliar o crescimento de todos. Outra coisa é sermos apenas uma peça descartavel na engrenagem.
  • Aprender a comunicar com assertividade.
    Há uma linha fina entre ser passivo e agressivo. Encontrar o meio-termo — ser assertivo — ajuda-nos a comunicar as nossas necessidades sem criar atritos desnecessários. Ser agressivo apenas irá fazer que sejamos mal apreciados, mal vistos. Sermos passivos – e isto passa-se muito em algumas empresas – apenas irá fazer que ao invés de trabalharmos para o nosso crescimento e carreira, apenas andemos ao sabor da maré dos outros.
  • Focar naquilo que podemos controlar.
    Por vezes, não conseguimos mudar o ambiente como um todo, mas podemos controlar a forma como reagimos a ele. Meditação, exercício físico (eu que o diga) e pequenos momentos de pausa ao longo do dia podem ajudar a aliviar o stress acumulado.
  • Procurar aliados.
    Não precisamos de enfrentar tudo sozinhos. Uma boa empresa fomenta a postura “não estás sozinho”. Encontrar colegas que partilham das mesmas preocupações ou que têm uma visão positiva pode ajudar a tornar o ambiente mais leve. Como equipa somos mais fortes e chegamos mais longe.
  • Criar empatia pelos outros.
    Como um grande Amigo meu diz, temos que entender as dores dos outros. Não sabemos o que eles passaram para estar assim. Criemos portanto empatia por quem por vezes possa ser demasiado agressivo, sem passarmos nós a uma posição de voluntária vitima. Ouvir, tentar compreender, e quem sabe auxiliar pode fazer um mundo de diferença.
    Existem casos claro que estão para alem da nossa ajuda, ou interesse em a receber. A esses… boa viagem.
  • Fazer planos para o futuro.
    Se a toxicidade é insustentável e não há sinais de mudança, talvez seja hora de considerar novas oportunidades. Lembrem-se de que o mercado é vasto pode ser uma motivação para procurar algo melhor, motivo pelo qual estou sempre a motivar a mim próprio e a quem trabalha comigo a aprender, a se cultivar, a crescer como uma pessoa e como profissional.
    Invistam em vocês e na vossa formação profissional. Um bom profissional é um profissional desejado no mercado. Logo em caso do pior acontecer estarão rapidamente a surfar outra onda.

Títulos veem e vão. Quem tu és ninguém te pode tirar. Aprende a ver a tua vida assim.

Melhorar as relações profissionais: como criar um ambiente mais saudável

Ambientes profissionais saudáveis dependem de relações saudáveis. E, convenhamos, nem sempre é fácil lidar com pessoas tão diferentes de nós. Mas há estratégias que podem ajudar:

  • Praticar empatia
    É fundamental sublinhar este ponto. Temos de ser empáticos com os outros.
    Quantas vezes julgamos alguém sem conhecer a história toda? Praticar empatia significa tentar ver as coisas do ponto de vista dos outros. Um colega que está a agir de forma ríspida pode estar a passar por um momento difícil, e perceber isso muda a forma como reagimos.
  • Dar e receber feedback construtivo
    Feedback não é sinónimo de crítica destrutiva. Saber elogiar o que está a ser bem feito e, ao mesmo tempo, sugerir melhorias de forma respeitosa faz toda a diferença.
    Apoiar sempre quem pode crescer com a nossa ajuda.
    Se olharem para uma pessoa com olhos de “se faço este crescer irá se tornar uma ameaça a mim” então algo está gravemente errado convosco e será altura de meditarem  porque estão a pensar assim.
  • Evitar cusquices e intrigas
    Sabemos que é tentador partilhar aquela novidade sobre o colega que chegou atrasado ou sobre a nova política da empresa, mas isso só alimenta um ambiente de desconfiança. Não o façam.
  • Celebrar pequenas conquistas
    Não precisamos nem devemos esperar por grandes vitórias para celebrar. Concluímos um projeto complicado? Parabéns a todos! Pequenos momentos de reconhecimento criam uma atmosfera positiva.
    É avassalador o que celebrar pequenas conquistas fazem a uma equipa. Pode significar facilmente o sucesso ou falha num projeto, num cliente, no futuro.

A importância do papel da liderança.

Todos os líderes têm um impacto gigante na saúde mental das equipas. Um líder que promove um ambiente aberto, onde as pessoas se sentem ouvidas e valorizadas, pode ser a diferença entre um trabalho extenuante e uma experiência gratificante.
Existem empresas onde isto é particularmente visível, até porque se fomenta uma estrutura transversal ao invés de torres onde rapidamente o pedido de ajuda é rapidamente abafado pelo ruído dos andares superiores.

Para os líderes que nos estão a ler (e para os que podem partilhar estas dicas com eles):

  • Incentivem pausas e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
  • Ofereçam formações sobre saúde mental e bem-estar.
  • Criem canais de comunicação abertos e seguros.
  • Dêem o exemplo: líderes que cuidam da própria saúde mental inspiram as suas equipas a fazerem o mesmo.

Por que tudo isto vale a pena?

Quando cuidamos da nossa saúde mental e promovemos ambientes corporativos saudáveis, ganhamos todos. Não só nos sentimos melhor no trabalho, como também levamos esse bem-estar para casa. Afinal, ninguém quer passar os fins de semana a descomprimir do que viveu nos dias úteis. Outro grande amigo meu, que foi coordenador  de equipas durante vários anos,  disse uma frase que igualmente ficou comigo: A satisfação de uma semana de trabalho, mede-se na noite do domingo anterior. And damn. O cuidado dele fez sem qualquer sobra de duvidas a diferença na qualidade do que era produzido naquela equipa.

A higiene mental não é um luxo, é uma necessidade. E criar um ambiente corporativo onde isso seja uma prioridade não depende apenas das empresas, mas também de cada um de nós. Podemos começar com pequenos passos: uma conversa honesta, uma pausa no momento certo ou um simples “bom trabalho” ao colega do lado.

No fim, aquilo que importa não é apenas o que fazemos, mas como nos sentimos enquanto o fazemos.

Até a próxima semana. Um abraço
Nuno.

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