Samsung Semiconductor: Quando a Propriedade Intelectual Vale Mais Que a Conveniência de AI’s Publicas

Olá a todos!

Perguntam-me com frequência: “Nuno, porque é que insistes tanto em soluções self-hosted quando temos o ChatGPT, Claude e outros serviços na cloud tão práticos?” A resposta que tenho dado é sempre a mesma – privacidade, controlo e segurança da propriedade intelectual. Mas hoje trago-vos um case study que põe fim à discussão: a Samsung Semiconductor Inc. decidiu que a sua propriedade intelectual vale muito mais que a conveniência dos serviços cloud, e implementou uma infraestrutura de IA completamente privada e auto-hospedada.

O Dilema Que Todas as Empresas Enfrentam

Imaginem por um momento que trabalham numa das maiores fabricantes de semicondutores do mundo. Os vossos engenheiros estão a desenvolver tecnologia de ponta em DRAM, SSDs, processadores e sensores de imagem. Cada linha de código, cada documento técnico, cada brainstorming sobre a próxima geração de produtos representa milhões de dólares em investigação e desenvolvimento. E agora querem dar aos vossos colaboradores acesso a ferramentas de IA generativa para acelerar o trabalho.

A solução mais fácil? Contratar um serviço SaaS como o ChatGPT Enterprise ou Claude for Work. Simples, rápido, sem complicações. Mas então lembram-se das letras pequenas dos termos de serviço que já muito falamos aqui, das políticas de retenção de dados que mudam sem aviso prévio, e da possibilidade muito real de que a vossa propriedade intelectual possa acabar, direta ou indiretamente, nos datasets de treino de futuros modelos. E se um colaborador inadvertidamente partilhar código proprietário? E se as conversas sensíveis sobre novos produtos fossem de alguma forma expostas?

Foi precisamente este dilema que a Samsung Semiconductor enfrentou. E a decisão que tomaram deveria servir de modelo para todas as empresas que levam a sério a proteção da sua propriedade intelectual.

O Caminho das Pedras: Recusar a Cloud

Quando as equipas da Samsung começaram a experimentar com ferramentas de IA generativa, a liderança rapidamente percebeu que precisavam de algo diferente. Não bastava ter acesso a modelos poderosos – era fundamental ter controlo absoluto sobre onde os dados residiam, quem tinha acesso, e como tudo era auditado. As soluções SaaS ofereciam velocidade, diminuíam o investimento inicial, mas faltava-lhes a flexibilidade e a governação necessárias para uma empresa deste calibre.

Os requisitos eram claros e não negociáveis. Precisavam de uma implementação simples e fiável de chatbots, integração com o Active Directory interno para Single Sign-On, rastros de auditoria completos com logs exportáveis, residência de dados estritamente controlada dentro da rede interna, e controlo total sobre plugins e guardrails de segurança. Qualquer solução que não cumprisse estes critérios estava automaticamente fora da mesa.

A Samsung tinha duas opções: comprometer a segurança pela conveniência, ou investir em construir a infraestrutura certa. Escolheram a segunda opção, e os resultados falam por si.

A Solução: Open WebUI em Kubernetes On-Premise

A solução escolhida foi o Open WebUI, uma plataforma open-source que já falamos e demonstramos como fazer uma implementação local aqui no nosso blog, que oferece uma interface familiar semelhante aos serviços comerciais, mas com uma diferença crucial – tudo corre dentro da infraestrutura da empresa. A equipa de engenharia de IA e Machine Learning da Samsung implementou a solução num cluster Kubernetes on-premises, garantindo isolamento total da rede externa.

O que impressiona neste caso não é apenas a tecnologia escolhida, mas a velocidade de implementação. Em apenas duas semanas, a Samsung tinha um ambiente de produção completamente funcional. Isto destrói o mito de que soluções self-hosted são necessariamente lentas e complexas de implementar. Com a arquitetura certa e a equipa adequada, consegue-se ter o melhor dos dois mundos: controlo total e rapidez de deployment.

A arquitetura implementada é exemplar em termos de segurança e governação. Todo o processamento e orquestração acontece dentro do cluster Kubernetes interno, o armazenamento utiliza bases de dados internas encriptadas e geridas in-house, a rede está completamente isolada do exterior sem qualquer comunicação externa, e o logging e monitorização integram-se na stack de observabilidade existente da empresa. Mais importante ainda, a residência de dados é rigorosamente controlada – nenhum dado sai da infraestrutura da Samsung.

Como explicou um dos engenheiros de software da empresa, o Open WebUI deu-lhes controlo sobre segurança, modelos e experiência de utilizador, sem nenhum vendor lock-in. Esta última parte é crucial e muitas vezes esquecida nas discussões sobre cloud versus on-prem. Quando dependemos de um fornecedor externo, estamos à mercê das suas decisões de preço, das suas mudanças de política, e da sua continuidade de negócio. Com uma solução self-hosted open-source, a Samsung controla o seu próprio destino.

O Processo de Adoção: Rápido e Eficaz

Uma das críticas mais comuns a soluções self-hosted é a dificuldade de adoção pelos utilizadores. Alegadamente, os colaboradores preferem interfaces familiares dos serviços cloud e resistem a ferramentas internas. A experiência da Samsung prova que este argumento não tem fundamento quando a implementação é bem feita.

A Samsung lançou um piloto de catorze dias com cem analistas. O sucesso foi tão rápido e evidente que decidiram fazer o rollout para toda a empresa, acompanhado por duas sessões de formação ao vivo e suporte contínuo pelo help desk de IT. Os números falam por si: em apenas trinta dias, oitenta por cento do staff-alvo tinha adotado a plataforma, os utilizadores ativos diários estabilizaram entre cinco e dez por cento do total de colaboradores, e as equipas de investigação e desenvolvimento reportaram melhorias significativas de produtividade.

Quarenta por cento dos colaboradores tornaram-se utilizadores ativos na primeira semana. Este nível de adoção é extraordinário para qualquer nova ferramenta empresarial, quanto mais para uma solução self-hosted. O segredo? A equipa de IA e Machine Learning da Samsung garantiu que o Open WebUI oferecia uma experiência familiar aos utilizadores, semelhante às ferramentas comerciais que já conheciam, mas com a vantagem adicional de um design simples e intuitivo que melhorava a usabilidade.

Os Resultados: Mais Rápido, Mais Seguro, Mais Controlado

Os resultados obtidos pela Samsung Semiconductor demonstram que não é necessário escolher entre segurança e produtividade. Os ciclos de desenvolvimento em investigação e software encurtaram trinta por cento, acelerando significativamente a iteração e inovação. Isto não é um ganho marginal – é uma transformação fundamental na velocidade com que a empresa consegue mover-se.

A adoção e usabilidade superaram todas as expectativas. Mais de quarenta por cento dos colaboradores tornaram-se utilizadores ativos na primeira semana, citando a simplicidade e capacidade de resposta da plataforma. Isto destrói completamente o argumento de que ferramentas internas são necessariamente inferiores em termos de experiência de utilizador.

Mas talvez o resultado mais importante seja o que não é imediatamente visível nos números: a segurança e compliance. A implementação completamente privada e on-premises garantiu o cumprimento dos requisitos internos de residência de dados. O controlo de acesso integrado e o logging robusto suportam a governação sem abrandar as equipas. Cada interação é auditável, cada acesso é controlado, e nenhum dado sai da infraestrutura da Samsung.

Esta é a diferença fundamental entre confiar a vossa propriedade intelectual a algoritmos de filtragem de terceiros versus ter controlo absoluto sobre onde os vossos dados residem. A Samsung não precisa de confiar que um fornecedor cloud vai proteger adequadamente os seus segredos industriais – eles garantem essa proteção por design.

Porque é Que Este Caso Importa Para Todos

A decisão da Samsung não é apenas relevante para gigantes da indústria de semicondutores. É um caso de estudo para qualquer empresa que valorize a sua propriedade intelectual e leve a sério a segurança dos seus dados. As lições são universais e aplicáveis a organizações de qualquer dimensão.

Primeiro, as soluções self-hosted não são necessariamente lentas ou complexas. Com as ferramentas certas e uma arquitetura bem pensada, consegue-se ter ambientes de produção funcionais em semanas, não meses. A Samsung demonstrou que é possível fazer um deployment completo em catorze dias para o piloto e trinta dias para o rollout total.

Segundo, a adoção por parte dos utilizadores não é um problema insolúvel. Quando oferecemos ferramentas bem desenhadas com uma experiência de utilizador pensada, as pessoas adotam-nas naturalmente. A chave está em não comprometer a usabilidade em nome da segurança – é possível ter ambas.

Terceiro, e talvez mais importante, há alternativas reais aos serviços cloud que não implicam sacrificar funcionalidade ou produtividade. O Open WebUI é apenas um exemplo entre muitas soluções open-source que permitem às empresas manter controlo total sobre os seus dados enquanto beneficiam das capacidades da IA generativa.

Custo Versus Valor

Sei o que muitos de vocês estão a pensar: “Isso é tudo muito bonito, mas quanto é que isto custa?” É uma pergunta justa, mas que revela uma incompreensão fundamental sobre como calcular o verdadeiro custo de uma solução tecnológica.

Sim, implementar e manter uma infraestrutura self-hosted tem custos. Precisam de hardware ou instâncias cloud privadas, precisam de pessoas com competências técnicas para gerir a plataforma, precisam de investir em formação e suporte. Mas estes são custos visíveis e previsíveis.

Os custos dos serviços SaaS são mais insidiosos. Há o custo óbvio das subscrições mensais que escalam com o número de utilizadores. Mas há também os custos escondidos e difíceis de quantificar: o custo de uma eventual fuga de propriedade intelectual, o custo de depender de decisões de pricing de terceiros, o custo de ter os vossos dados retidos por cinco anos em servidores que não controlam, o custo de mudanças unilaterais nas políticas de privacidade.

Para uma empresa como a Samsung, onde cada inovação vale potencialmente milhões ou biliões de dólares, o cálculo é simples: o risco de comprometer a propriedade intelectual supera em muito o custo de implementar e manter uma solução própria. E para empresas mais pequenas? O cálculo pode ser diferente, mas os princípios mantêm-se. Cada empresa precisa de avaliar honestamente o valor da sua propriedade intelectual e o risco que está disposta a aceitar.

As Ferramentas Estão Disponíveis Para Todos

Um dos aspetos mais encorajadores deste caso é que a tecnologia utilizada pela Samsung está disponível para qualquer um. O Open WebUI é open-source e pode ser implementado por empresas de qualquer dimensão. Não é preciso ser uma multinacional de semicondutores para beneficiar desta abordagem.

Para empresas mais pequenas ou equipas técnicas, existem opções ainda mais simples. Ferramentas como Ollama e LM Studio permitem correr modelos de linguagem localmente com configuração mínima. Para organizações de média dimensão, soluções baseadas em Kubernetes como a implementada pela Samsung são perfeitamente viáveis com a equipa certa.

A barreira não é tecnológica – é mental. Habituámos-nos tanto à conveniência da cloud que esquecemos que existem alternativas. A decisão da Samsung lembra que quando os stakes são suficientemente altos, o investimento em soluções próprias não só é justificável como necessário.

O Padrão Que Se Repete

Este caso da Samsung encaixa-se perfeitamente num padrão mais amplo que tenho vindo a observar e a escrever sobre no blog. As grandes empresas tecnológicas começam com promessas fortes de privacidade para ganhar confiança, depois gradualmente relaxam essas políticas quando têm uma base de utilizadores estabelecida. Já vimos isto acontecer repetidamente.

A diferença é que empresas como a Samsung não esperam que a próxima mudança de termos de serviço as apanhe desprevenidas. Elas tomam o controlo desde o início, construindo infraestruturas que não dependem da boa vontade ou das decisões de negócio de terceiros.

Este é o caminho que mais empresas deveriam considerar seriamente. Não estou a dizer que toda a gente precisa de implementar clusters Kubernetes on-premises. Mas toda a empresa deveria ter uma estratégia clara para proteger a sua propriedade intelectual na era da IA generativa. E essa estratégia não pode ser “confiar que o fornecedor cloud vai fazer a coisa certa”.

Olhando Para o Futuro

A Samsung Semiconductor planeia continuar a expandir a sua infraestrutura de IA com o Open WebUI, integrando modelos internos adicionais e otimizando o desempenho de RAG sobre datasets de investigação proprietários. Isto mostra que a decisão de ir self-hosted não foi apenas uma solução temporária ou um experimento – é uma aposta estratégica de longo prazo.

E faz todo o sentido. À medida que a IA se torna mais central para os processos de negócio, o controlo sobre essa infraestrutura torna-se cada vez mais crítico. As empresas que investem agora em construir capacidades internas estarão muito melhor posicionadas do que aquelas que dependem exclusivamente de fornecedores externos.

A mensagem é clara: a propriedade intelectual vale mais que a conveniência da cloud. Quando os vossos dados representam o vosso futuro competitivo, não há desculpa para não os proteger adequadamente.

Como sempre defendo, a solução para o dilema entre produtividade e privacidade não está em escolher um ou outro – está em construir a infraestrutura certa que permita ter ambos. A Samsung provou que é possível. Agora é a vossa vez de decidir se a vossa propriedade intelectual vale o investimento.

Até ao próximo post. Um abraço.
Nuno

Para mais informações: https://docs.openwebui.com/enterprise/customers/samsung-semiconductor/